“Só quem já passou por isso, sabe
qual é a dor”. A frase é comum na rotina das pessoas, mas quem a viveu de
verdade desabafa, de forma íntima, o tamanho da ferida. “O crack mata e não
deixa escapatória”, afirma Venicio Guimarães, pai de dois
filhos, antes pai de três. Um de seu amado trio – o primogênito – morreu, mas
nem disso o advogado e dono de imobiliária tem a certeza.
Após o telefonema com uma notícia
trágica, Venicio passou um dia no quarto, gritando. Um siri na lata, como ele
define. A angústia de não saber onde errou, de não saber as respostas e, muito
menos, as questões tomavam conta dos pensamentos naquele momento difícil. A
liberação da dor ultrapassou as barreiras da casa e, por meio de uma foto
divulgada no Facebook, atingiu milhões de pessoas.
“Eu jamais esperava, quando acontece
isso a gente não entende. Quando fui olhar [a foto postada] já era 50, 80, 120
mil compartilhamentos”, comenta. Uma ideia logo surgiu: a campanha Acorda
Juventude.
“Recebi várias mensagens, pedidos de
entrevista em vários jornais. É que a carência do ser humano em relação a esse
tema é grande. As pessoas querem alguém que fale por elas. Meu papel é esse.
Não quero falar sobre drogas, porque não entendo nada de droga! O que eu
entendo é a dor por causa da droga”, conclui. É dessa forma que Venicio
escolheu, em meio a dor, proporcionar um conforto e uma alerta a pais e filhos.
Somente dor...
Nos 14 anos do filho mais velho, a
dor já havia aparecido. “Houve um comentário dos vizinhos que ele estava com um
pouco de maconha nas mãos e aí começou a confusão de drogas na nossa vida”.
Foram pequenos furtos dentro de casa que passaram a ser realizados na rua. “Os
colegas levaram ele para roubar e chegou no ponto dos grandes assaltos. Já não
sei o ponto que entrou o crack, até porque o pai nunca sabe”, relembra.
O pai ainda fala sobre prisões do
filho. “Ele entrou e saiu de presídio, foi preso várias vezes em Fortaleza. Já
foi correndo para hospital, porque tinha levado tiro nas costas, e já morou na
rua”, conta. O pai comenta que já tentou internar o filho. “Ele disse que ia
participar da clínica, assim que saiu do presídio. No dia que ele ia entrar,
ele disse que tinha se curado. Os dependentes mentem”.
Já casado, aos 30 anos, e com dois
filhos, o filho viciado em drogas de Venicio sumiu. “Ele sempre sumia. Sempre
abandonava a família. Ele não queria saber da mulher, mas gostava muito dos
filhos”.
Após um tempo sumido, a nora ligou
para o pai, informando um assassinato no interior do Maranhão. “Disseram que
meu filho tava morto e enterrado. A morte foi em junho, mas ficamos sabendo há
cinco dias. Não cheguei a ver o corpo, mas se você me perguntar: “E se ele
aparece vivo?” Eu ia achar ótimo”, confidencia.
Relação de pai e filho...
A ideia de família feliz tinha
acabado, assim como a relação de amor entre pai e filho. “A convivência ficou
bem complicada, de conflito! Ele tentou me matar, me deu uma facada e não pegou
porque eu tinha uma habilidade, já tinha lutado box”, lamenta. E é no meio de todas as lembranças
ruins, que o pai demonstra o amor que ainda existe e a saudade que persiste. “A
droga faz tudo, transforma! Ele sem a droga era a melhor pessoa do mundo, era
respeitador. A dor é terrível! É como se de cada minuto fossem arrancados dois
segundos. Você passa a ter 58 segundos em cada minuto tua vida e para sempre”,
sente falta.
Fonte: http://www.jangadeiroonline.com.br/tag/campanha-acorda-juventude/
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